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As inseguranças de ser pai e mãe
Como você se sentiu quando soube que seria pai ou mãe? Talvez feliz, pois há muito tempo desejava. Já se preparava para este momento. Era aguardado por toda família ou apenas em seu coração. Ou quem sabe tenha ficado surpreso, pois não esperava, não estava em seus planos ou este não fosse o momento. Em meio a tantas emoções, talvez as suas inseguranças também tenham ficado em evidência. Confrontou os medos que antes te eram desconhecidos. Parece que o melhor sacrifício que você pudesse fazer dali em diante ainda lhe seria pouco aos próprios olhos rígidos.
Sua história pode ser um filme em sua mente, o mais terrível filme: revivendo os traumas e as dificuldades, vozes internas que afirmam uma tal incapacidade de cuidar de um outro ser cheio de vida; por vezes sua mente lhe diz que os outros também em ti não acreditam. “E qual futuro está à minha espera?”. Estabelecer uma nova rotina em casa, a relação com a família, os olhares indiscretos, conselhos não pedidos e os desafios desconhecidos. Quão angustiante pode ser a sua mente neste instante, que não tem delicadeza ao revelar o que há de mais doloroso para ti.
Infelizmente, não há vida que não tenha inseguranças, então como lidar com elas? “Lidar? Eu preferia me livrar delas”, você poderia me responder. Entretanto, tentar combatê-las ou evitá-las não te ajudam em sua caminhada. Talvez possam desaparecer por um tempo, mas em breve retornam com uma força que não se imagina. Então, terá valido a pena? Será que fugir das inseguranças não te levará em uma direção oposta àquela que quer seguir? Te levará por um outro caminho que mais te afasta do seu mais desejado propósito?
Se não te agrada para onde você está indo, ainda é possível ouvir um alento vívido, começando justamente por aquilo que lhe é tão temido: as suas inseguranças. Por vezes parece que você está sendo esmagado por elas. Sensação de que você não consegue dar conta. Está para além dos seus limites. Mas, vamos olhar por um outro ângulo. Na verdade, o peso que você sente é justamente por tentar conter o que está aí dentro. Imagine segurar um balão cheio de ar debaixo d’água. Pode conseguir por alguns instantes, mas no momento em que você relaxa, logo ele reaparece na superfície. Você terá que voltar a sua força e atenção para o balão se você quer que ele desapareça de vista.
Provavelmente, você se sente assim. Se esse for o caso, você tem que estar o tempo todo em alerta tentando evitar os seus sentimentos ou rebatendo os seus pensamentos, buscando esconder o seu balão. Acaso um pensamento lhe surge nesse percurso: “quando eu resolver as
minhas emoções, serei um(a) pai/mãe melhor”. Tudo o mais fica em segundo plano porque naquele momento é importante para você não deixar que as emoções retornem. Por mais que saibamos que não seja intencional, é uma possível consequência. Parece que a vida começa a sair de sintonia: uma acentuada dificuldade de se relacionar com os filhos, constantes conflitos com o companheiro ou a companheira, desconexão consigo mesmo sem nem mais saber o que está fazendo, responsabilidades comprometidas e dificuldade de aproveitar os momentos ou de relaxar.
No entanto, quero lhe apresentar uma proposta que foge justamente disso que estamos habituados a fazer. Se você aceitar que os seus medos venham, por mais difícil que seja, já é o começo de um novo caminho. Isso porque no momento que você permite sentir o que realmente está sentindo, sem buscar lutar, a sua atenção e a sua energia poderão ser direcionadas para o que for mais importante para ti naquele momento, como a forma como você deseja se relacionar com o seu filho. A minha pergunta é: você quer passar a vida segurando um balão de ar debaixo d’água ou aproveitar as oportunidades disponíveis apesar da presença do balão estar na superfície?
Sobre a autora: Ana Patrícia Freire (CRP 11/13449) é psicóloga clínica, formada pelo Centro Universitário Estácio do Ceará. Atua com a Terapia de Aceitação e Compromisso.
HARRIS, Russ. The Reality Slap: How to survive and thrive when life hits hard. 1. ed. [S. l.]: New Harbinger Publications, 2012.
HARRIS, Russ. Liberte-se: evitando as armadilhas da procura da felicidade. [S. l.]: Agir, 2019. 150 p. ISBN 978-8522010264.

