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A comunicação e os comportamentos verbais
A habilidade de comunicação é provavelmente uma das mais importantes no mundo atual, precisamos constantemente interagir com pessoas nos mais diversos cenários, contextos e até mesmo plataformas. Online ou presencialmente, estamos quase sempre em contato com alguém e lidando com os diversos tipos de relações estabelecidas, sejam de trabalho, amizade ou família, cada uma com suas peculiaridades que aprendemos com a vivência e incontáveis interações que ocorrem, ao menos na maioria de nós, com tanta naturalidade que acaba por passar despercebida a complexidade envolvida.
Quando falamos de comunicação, nos referimos principalmente à capacidade de enviar a alguém uma mensagem através de algum tipo de linguagem, verbal ou não, e para isso precisamos estar familiarizados de alguma forma com a comunidade verbal que estamos, resumida por Passos (1999) como “um conjunto de falantes e ouvintes que apresentam comportamento verbal e respostas ao comportamento verbal resultante de práticas reforçadoras relativamente homogêneas” (p. 273). Complicou? Então, calma que ao longo daqui as coisas vão clarear um pouco sobre o que tratamos na ciência do comportamento como comportamento verbal ou operante verbal.
Voltando um pouco no tempo, temos o nosso querido Skinner em 1957 lançando o seu livro “Comportamento Verbal” a fim de discutir e iluminar as nuances que envolvem essa classe. Nele vemos classificações de comportamento que usamos frequentemente no processo de terapia: tato, mando, intraverbal, ecóico etc. Deu para entender? Mesmo com parte dessas palavras sendo comuns em nossa língua imagino que a resposta seja que não, justamente por esses termos serem parte de uma comunidade verbal, saindo do psicologuês, um grupo que atribui um significado específico a essas palavras e as usa para fins comunicativos, assim como encontramos outros grupos profissionais com seu próprio linguajar ou também grupos sociais. Quem de nós não estava por fora e precisou procurar o que era “cringe” ou ficou perdido com expressões de Portugal, hein?
Voltando ao assunto, parte da comunicação está relacionada a um aspecto cultural que aprendemos com o tempo e que também é ensinado de forma mais direta dentro da terapia para garantir o ajustamento no meio social. Parte do trabalho com isso é feito com o treino dos comportamentos que apresentamos acima, usando-as como funções ou ferramentas para desenvolver e refinar a habilidade de comunicação.
Agora finalmente vamos explicar de forma simples o que são os principais operantes verbais para finalmente começar a compreender esses termos que geram tantas dúvidas, começando pelo tato:
- Tatear envolve o ato de relatar ou descrever, como quando falamos sobre características de objetos, falar sobre sentimentos, elogiar, contar eventos etc.
- Temos o mando que envolve solicitações, pedidos, exigências etc e é comumente usado para realizar alguma vontade ou evitar situações que são aversivas de algum jeito, como: “pare de falar tão alto”.
- O ecóico consiste basicamente em fazer uma reprodução de fala, como quando cantamos uma música, repetimos o que alguém disse, repetimos um som, tentamos imitar a pronúncia de uma palavra que temos dificuldade, os casos são muitos.
- O intraverbal consiste em respostas conectadas entre si, bem como fazemos em conversas no cotidiano em uma dinâmica de fazer perguntas, respostas, comentários, todos tendo alguma conectividade no que vai ser dito depois pelos falantes.
Mesmo falando de forma breve sobre cada um desses comportamentos, acredito que já deve ser possível imaginar a importância prática deles na comunicação e depois de falar tanto sobre o assunto deve ser um tanto inevitável trazer a pergunta de volta para as nossas crianças e se elas vão conseguir chegar no ponto de conseguirem se comunicar adequadamente. E felizmente podemos ter todas as expectativas que SIM. Com certeza é difícil ter o tempo passando e vê-las com dificuldades em algo que esperávamos que viesse tão naturalmente e que ainda por cima pode trazer tantos prejuízos no dia a dia, mas felizmente o nosso conhecimento proporciona a capacidade de desenvolver um trabalho que gradualmente ensina habilidades necessárias para a comunicação, de forma que possa acompanhar e interagir no meio social de forma natural.
Enfim, tivemos um texto longo quanto a esse assunto que é realmente um mundo… tivemos algo um tanto quanto uma introdução, talvez um tanto densa, e por isso acabamos por aqui com um convite para entrar em contato e trazer perguntas e dúvidas que ficaram acerca do tema, assim podemos explorar e conversar melhor em outros momentos.
Sobre o autor: Pedro Rezende (CRP:11/16462), psicólogo clínico formado pela Universidade de Fortaleza

