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Meu filho vai conseguir se comunicar?
A capacidade de se comunicar é uma habilidade adaptativa extremamente relevante para a vida em sociedade. Na definição do TEA, os déficits nos comportamentos comunicativos e de interação são algumas das coisas que mais costumam assustar os pais. Com o diagnóstico, surgem questões como a apresentada acima: meu filho vai se comunicar?
As definições do termo “comunicação” concordam que esta se trata da capacidade de trocar ideias, informações e solicitações, isto é, tornar algo comum. Quando nos deparamos com tal questão, é comum que associemos a comunicação à linguagem verbal e complexa que usamos no dia a dia; mas esse tema é muito mais amplo e perpassa expressões faciais, gestos, posturas corporais, diferentes tipos de sons, dentre outras coisas; e dependem, claro, do contexto em que ocorrem.
Desde muito cedo as crianças desenvolvem formas de comunicação não verbais para fazer solicitações, como chorar, balbuciar, apontar, etc. Ao longo do seu crescimento, é essa comunicação, somada a estímulos externos e à orientação necessária, que possibilita a aquisição da linguagem. No caso de crianças com TEA, essas competências pré linguísticas são comprometidas, ocasionando padrões comunicativos restritos e menos sociais e interativos. E é justamente por isso que tanto se reforça a importância de intervenções precoces em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) ao Autismo que foquem na aquisição de habilidades específicas como a capacidade de contato visual, o ensino de gestos como apontar, a atenção compartilhada, dentre outras.
É importante pontuar que o desenvolvimento de qualquer indivíduo é único e a forma como é vivido depende de diversas variáveis, algumas que controlamos e outras, não. Além de ser um processo natural e dinâmico, ele não ocorre em um tempo específico e uniforme. Este processo é singular para cada criança e, apesar de existirem marcos que ocorrem em um certo padrão para a maioria delas, também existe uma certa variabilidade inerente a cada uma.
Dessa forma, mesmo que seja comum, o atraso e a dificuldade de aquisição da linguagem entre pessoas neuroatípicas não acontece em todos os casos. Estudos apontam que a porcentagem de autistas não verbais é de 30% e, dentre estes, ainda há uma variação significativa na forma que isso se expressa, podendo haver categorizações como “low verbal” e pré verbal. Isto é, mesmo crianças autistas consideradas não verbais podem desenvolver algum tipo de fala.
Diante dessa questão, com o intuito de possibilitar um melhor desempenho de uma comunicação funcional a esse público, alguns estudiosos desenvolveram sistemas de comunicação alternativa, conhecido comumente apenas como Comunicação Alternativa ou Comunicação Ampliada, e dizem respeito a recursos visuais e/ou gestuais que possam suplementar ou substituir a fala quando esta é comprometida de alguma forma.
Assim, é importante termos em mente que não é só nossas crianças que precisam se adaptar ao nosso mundo, afinal, nós também precisamos desenvolver a habilidade de enxergar e compreender o mundo delas. É necessário nos comprometermos com a busca por formas de comunicação funcionais que possam ser generalizadas não só ao contexto em que a criança está inserida, mas que sejam incorporadas, entendidas e úteis por e para toda a família e demais envolvidos na vida dela. Seu filho autista pode aprender a se comunicar como você, usando as mesmas palavras, a mesma língua, mas se isso não acontecer, é possível também que a gente aprenda e compartilhe com os outros a sua própria linguagem. A verdade é que, sim, as nossas crianças já se comunicam, mas nem sempre sabemos ouvir.
REFERÊNCIAS: ALMEIDA, M. A.; WALTER, C. Walter, Cátia e Almeida, Maria AméliaAvaliação de um programa de comunicação alternativa e ampliada para mães de adolescentes com autismo. Revista Brasileira de Educação Especial [online]. 2010, v. 16, n. 3, p. 429-446. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-65382010000300008. Epub 11 Fev 2011. ISSN 1980-5470. https://doi.org/10.1590/S1413-65382010000300008.
BALBI NETO, R. R. Q. Comunicação e linguagem nas relações interpessoais: conceitos e métodos comportamentais no estudo do autoclítico lexical. Tese (Doutorado em Psicologia). Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória. 2016.

