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O que acontece se eu esperar ele ficar mais velho para fechar o diagnóstico?
Estudos epidemiológicos têm mostrado um aumento considerável no número de diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista nos últimos 50 anos. Tal fato, defendem os cientistas, tem se dado graças a uma maior conscientização sobre o assunto, além de uma melhora no que diz respeito aos critérios e às ferramentas utilizadas no processo diagnóstico, permitindo um mapeamento mais acurado da incidência do transtorno. Relacionado a isso, há também o aumento nas pesquisas que buscam compreender de forma mais precisa as possíveis causas do transtorno e de seu desenvolvimento, resultando em diversas evidências científicas que apontam para bases genéticas em associação a condições ambientais, o que refina também as propostas de intervenção e tratamento.
Sabe-se que as manifestações do TEA se apresentam ainda nos anos iniciais de vida da criança e suas primeiras evidências são notadas principalmente pelos familiares, que podem perceber alterações na maneira como o bebê interage e explora os objetos do ambiente, podendo ter interesses restritos e fixos, além de dificuldade em sustentar o olhar, e também a presença comportamentos repetitivos e estereotipados, dentre outras particularidades.
O nosso desenvolvimento social e cognitivo está diretamente relacionado aos estímulos e experiências com as quais temos contato ao longo da vida. A neuroplasticidade é o termo usado para definir essa capacidade de “expansão” do nosso cérebro através dos estímulos que recebe do meio. Nos primeiros anos de vida, essa plasticidade é ainda maior, o que potencializa o desenvolvimento neurológico nesse período. Não é por acaso que é tão comum ouvirmos que a infância é a melhor época de aprendermos novos idiomas, esportes, dentre outras habilidades.
No caso do TEA, isso implica dizer que quanto mais cedo for o diagnóstico, maior a probabilidade de resultados mais efetivos, pois é possível oferecer os treinos e estímulos necessários com foco no desenvolvimento das habilidades prejudicadas por causa do transtorno. Dentre os aspectos específicos do TEA que podem ser trabalhados com rotinas terapêuticas e intervenções estão componentes não verbais da comunicação, como a capacidade de olhar nos olhos e a atenção compartilhada, a compreensão de gestos e expressões, etc., os quais são elementos fundamentais para o desenvolvimento de habilidades interativas necessárias à vida em sociedade, resultando em maior autonomia da pessoa autista.
Então, o que acontece se esperar que a criança fique mais velha para fechar o diagnóstico? Bom, os prejuízos podem ser enormes e não só para a criança. O estresse familiar é uma das consequências do diagnóstico tardio pois sem a compreensão do que o filho está vivenciando, não há como oferecer o suporte necessário e disso decorre a frustração de não ter resultados e a sensação de “correr em círculo”. Em relação ao efeito dessa espera para a criança, há a menor efetividade das intervenções, pois, como falado anteriormente, existe uma janela temporal em que o aprendizado de novas habilidades é maior. Dessa forma, fica mais difícil de se alcançar um melhor desempenho em diferentes áreas pois o seu desenvolvimento exige intensos períodos de treinos, manutenção e generalização. É importante destacar também que um outro problema decorrente desse atraso é o agravo na saúde emocional da pessoa autista pois, sem o diagnóstico e, consequentemente, sem informações suficientes, ela pode se sentir cada vez mais deslocada e solitária. Por fim, é indispensável pontuar que, infelizmente, ainda é muito comum que nem todos tenham acesso ao diagnóstico no período ideal, e isso não implica em um fracasso da intervenção, mas em desafios diferentes. Por isso, esteja atento aos sinais o mais cedo possível..
REFERÊNCIAS: ANDRADE, I. C.; CAVALCANTE, I. D.; MELO, L. R.; DIAS, M. B.; FONSECA, N. M.; BRAGA, T. A importância da detecção de sinais precoces no Transtorno do Espectro Autista

