Ninguém nasce sozinho, isto é fato. Precisamos de suporte para absolutamente tudo desde o princípio da nossa existência. A figura materna é a mais atrelada a esse cuidado que necessitamos enquanto espécie. Mas a maternidade vai além de gerar, nutrir e criar. Todo ano, especialmente nessa data, vemos diversas mensagens celebrando a beleza da vivência materna, a conexão instantânea com o filho, a força das mães, a responsabilidade, a afetividade, a impecabilidade… E de fato, algumas dessas coisas compõem a experiência, mas não a resumem.

Diversas vezes, por toda essa imagem de perfeição que é passada, mães ao redor do mundo se sentem constantemente cansadas, culpadas e incapazes de se adequarem aos parâmetros irreais que são colocados sobre elas. A maternidade assume muitas formas: nem toda mãe carregou seu filho no útero, nem toda mãe planejou ser mãe, nem toda mãe consegue voltar a trabalhar depois da licença, nem toda mãe tem rede de apoio, nem toda mãe consegue se encaixar na figura de perfeição instintiva esperada pela sociedade.

Na verdade, ninguém nasce sabendo ser mãe. Esse papel é uma construção que não se finda. É um mundo de reinvenção e redescoberta que exige, acima de tudo, abertura ao inesperado. Se não nascemos com todas as respostas, é óbvio que os filhos um dia farão perguntas que você não saberá responder, e o que isso significa? Uma possibilidade de aprender algo novo junto com ele. E quando ele tem um medo que você também tem? Uma chance para enfrentá-lo ao lado de alguém que você ama.

No caso de mães de pessoas com TEA, existem desafios e prazeres que se apresentam de forma diferente. Apesar de cobranças e expectativas ainda maiores e da falta de compreensão por parte de muitas pessoas, cada novo passo dado tem um sabor mais intenso. Cada sorriso e olhar compartilhado, cada nova habilidade desenvolvida é uma injeção de força e alegria que recarrega e traz esperança.

A maternidade, assim como o autismo, é diversa, mas há aspectos comuns a ela: o amor, a coragem, o desafio e a descoberta. Independente do tipo de mãe que você é, da mais protetora a mais desencanada, da mais engraçada a mais séria, desejamos que nesse dia que se celebra a experiência materna, você possa acolher a imperfeição como parte da beleza do processo. Que a culpa, o medo e a pressão percam espaço e que se abra caminho para a conexão com o momento presente, para a leveza, para as brincadeiras, para o equilíbrio e para o imenso amor que cabe perfeitamente nessa relação.

Autora: Vanessa Amarante de Souza, CRP 11/17129. Psicóloga clínica formada pela Universidade Federal do Ceará com experiência de atuação em Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo e Terapia de Aceitação e Compromisso.