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Por que sua mente parece agir como um inimigo?
(E porque revidar torna tudo ainda pior…)
Escrito por Francisco Edineudo Sousa Ferreira – CRP 11/14042
É duro ser pai, é desafiador ser mãe. Ainda mais quando se recebe algo tão desnorteador e impactante como o diagnóstico de autismo do seu filho. Talvez seus primeiros pensamentos tenham um conteúdo que lhe faça sentir culpa, medo e vergonha, ao passo que você começa a julgar-se por ter tais pensamentos. Talvez se sinta o pior pai/mãe do mundo, e sinta o chão desabar debaixo dos seus pés. Acaba se vendo dentro de um tornado, mas diferente do que se passa nos filmes, ele não tem um “olho” tranquilo. Não há um momento de paz, não há uma fuga eficiente da realidade. Você pode tentar, e até conseguir por um tempo, mas logo percebe que esses momentos de alívio duram pouco, e com frequência lhe custam muito.
A realidade é implacável e sua mente mais ainda, ela conhece todos os seus pontos fracos, e constantemente lhe apresenta todos os seus pecados e lhe mostra através disso que você não é capaz, que você não vai conseguir, que isso é demais pra você. Talvez comece as comparações – o quanto aquele influenciador digital que você segue tem uma rede de apoio eficiente ou recursos suficientes para a demanda do seu filho ou filha, ou um amigo que também tem um filho ou filha com o mesmo diagnóstico e parece que ele é muito mais paciente do que você. Outra pessoa facilmente poderia lhe substituir, ocupar o seu lugar. Aos outros, parece ser muito fácil enquanto para você parece que entrou em um labirinto sem saída.
A sua mente é bem convincente, especialmente em usar as suas inseguranças contra você, e faz das atividades de cuidados diários um palco no qual lhe mostra, das formas mais criativas e dolorosas possíveis, o quanto você é inferior e incapaz de dar conta de criar seu filho eficientemente. Porém, isso, o que sua mente diz, não é o problema. Sério! De verdade, acredita?! Sua mente está tentando te proteger fazendo isso. Isso mesmo, você leu certo. Acontece que essa é a forma que nossa mente evoluiu para lidar com os problemas – através da linguagem.
Imagine por um momento que você contratasse o maior “resolvedor de problemas” do mundo. Imaginou? Adivinha qual o pré-requisito para se ter esse título? Ser o maior “identificador de problemas” do mundo! Consegue ver o peso que é estar ao lado de uma pessoa excelente em achar defeitos? Mais do que isso, uma pessoa que ganha a vida fazendo isso e que é a melhor no mundo nessa função! Afinal, sem problemas não há soluções a serem implementadas. Pois é exatamente isso o que sua mente faz, ela vasculha problemas com a intenção de resolvê-los, mesmo quando os serviços dela são desnecessários ou indesejados. Ela está tentando te ajudar, só é muito desajeitada nesse objetivo.
O ponto é: que tal da próxima vez que sua mente tentar te ajudar, você tentar – antes de tudo – notar que é isso o que ela faz, e que é ela que está operando. Diga a si mesmo: “obrigado por esse comentário, mente!” e siga fazendo o que é melhor pra você segundo o tipo de pai/mãe que você quer ser para seu filho ou filha. Os problemas não vão sumir, e as adversidades no cuidado com seu filho ou filha não vão ficar mais fáceis. Porém, por que carregar um peso adicional de se deixar levar em tudo o que sua mente fala? Lembre-se que o papel dela é resolver problemas e, antes disso, identificá-los.
Não espere uma tapinha nas costas e férias de pensamentos críticos e julgadores. Para a mente, um dia sem problemas – de paz emocional – é um sinal que ela precisa trabalhar mais para ser produtiva. Então não espere reconhecimento de quem ganha vida em fazer “você não se sentir bom o suficiente”, prossiga com seus cuidados parentais baseados não em seus pensamentos, mas no tipo de pai/mãe que você quer ser para seu filho ou filha. No final, criar um ser é sobre isto: viver momento a momento, aceitando ele como ele é, aceitando seus sentimentos exatamente como são e deixando seus valores ditarem o caminho.
Sobre o autor: Francisco Edineudo Sousa Ferreira é Psicólogo Clínico (CRP 11/14042), formado pela Universidade Estácio de Sá. Atua com a Terapia de Aceitação e Compromisso.
COYNE, L. W. The Joy of Parenting: An Acceptance and Commitment Therapy Guide to Effective Parenting in the Early Years. [S. l.]: New Harbinger Publications, 2009. 216 p.
COLIER, N. Can’t Stop Thinking: How to Let Go of Anxiety and Free
Yourself from Obsessive Rumination. [S. l.]: New Harbinger Publications, 2021. 161 p.

